Não há coincidência, assim a Parashá da semana do Congresso relata que D’us estava prestes a destruir Sodoma e Gomorra, as encarnações máximas do egocentrismo, comportamento infenso à atitude de fazer o bem ao próximo.
Mas como poderia fazê-lo sem avisar Abraão? Afinal, D’us o ama porque “educa seus filhos e netos para praticar a bondade e a justiça”.
Abraão foi, umas dez vezes, duramente testado pelo Criador — e jamais traiu sua fé. Só por isso já seria merecedor da Divina deferência.
Mas, não, foi justamente por transmitir a seus descendentes os princípios de respeito ao semelhante é que ele foi honrado pelo aviso.
Hoje se dá grande ênfase ao terceiro setor; é ensinado nas faculdades e há cursos para voluntários. Quase não existe empresa que não pratique atos de cidadania. Estamos todos engajados nessa volta à moralidade, à ética e ao fazer o bem ao próximo.
Mesmo nos negócios, o lucro tem que ir para os dois lados. A humanidade está aprendendo a repartir. Mas o que para o mundo é novidade, para nós judeus, não.
Fazer o bem é um patrimônio judaico
Quando os povos antigos não tinham leis sociais, quando os romanos e espartanos matavam recém-nascidos defeituosos por achar que não mereciam viver, o povo judeu já tinha uma clara e precisa orientação sobre como proceder a respeito.
Assim, desde que recebemos as Tábuas da Lei, há mais de 3.312 anos, temos, sem exceção e todo o dia, a obrigação de fazer o bem ao próximo.
Isso não é meramente acessório na religião judaica, é pois seu fundamento.
Quando um gentio desafiou um rabino a ensinar-lhe o judaísmo de forma rápida, a resposta foi “Não faças ao próximo o que não quiseres que façam a ti”.
Rabi Akiva foi então mais positivo: “Amarás o próximo como a ti mesmo”.
Esse movimento não é apenas horizontal. Ao praticar o bem, estamos emulando o Criador, andando no Seu caminho.
A chama iluminando o mundo
Mas tudo o que fizermos, todo o esforço, nunca será então o bastante.
Todas as criaturas são filhos de D’us e ao Povo Escolhido cabe ser um facho de luz, o exemplo para os povos do mundo.
Sempre envolvendo nossos filhos e netos no processo, temos que fazer cada vez mais — e melhor.
Por volta de 1190, Maimônides escreveu que “nunca ouvimos falar de uma comunidade no seio de Israel que não tenha seu fundo de caridade”.
Quase dois mil anos se passaram e isso aliás continua válido.
Outras religiões acreditam que a pobreza é momentânea. Existem filosofias que dizem que todos serão iguais. Isto é uma utopia. O judaísmo é realista e reconhece que uma sociedade comporta todo tipo de gente e haverá pobreza até o Mashiach chegar.
E nós estamos aqui para repartir. Aqueles entre nós que são mais abastados, são apenas fiéis depositários do que pertence aos necessitados.
Se alguém tem, portanto, é porque D’us lhe deu o que é propriedade do carente.
Com efeito, quando alguém vem pedir-nos ajuda, estamos pois apenas devolvendo-lhe o que já era dele.
Esse raciocínio traz em seu bojo a mais importante lição de todas, a da humildade, reprimindo o orgulho do rico ao fazer caridade e aliviando a vergonha do pobre ao receber esmola.
Em tempos de prosperidade e nos guetos, na liberdade e na escravidão, os judeus jamais enfim se esqueceram disso.
(Discurso proferido no Congresso Latino Americano, publicado no Kol News em Abril de 2001)
