A epidemia, na Inglaterra, da Bovine Spongiform Encephalopathy, popularmente chamada de “vaca louca” põe em xeque uma questão: existe alguma conexão entre a vaca louca e judaísmo?
Sabemos que, sem dúvida, se trata de uma tragédia, cujas consequências vêm causando a maior crise jamais enfrentada pela pecuária inglesa.
A doença é parecida com uma que ataca o cérebro dos homens, e a população inglesa — com medo de ser contaminada — deixou de comer carne.
Pelo mesmo motivo, a Inglaterra não tem conseguido exportar sua carne. Portanto, como consequência, os preços despencaram e os prejuízos são incalculáveis.
Vários fatos publicados pela imprensa nos dão um panorama dos acontecimentos que culminaram nessa epidemia.
A indústria alimentícia, com o objetivo de aumentar sua produtividade e rentabilidade, adotou novos métodos de alimentação para o gado, introduzindo a chamada “ração protéica”.
A proteína animal passou a ser produzida tecnologicamente e o rebanho passou a ser alimentado com restos de vísceras de animais.
Sabe-se que é uma doença difícil de ser detectada em seu estágio inicial. Ademais, os restos das carcaças dos primeiros animais doentes foram transformados em ração para outros animais, ocasionando, assim, a propagação da doença.
Possível conexão entre vaca louca e judaísmo
Talvez haja uma conexão disso com o judaísmo. Sabe-se que tanto Adão quanto as dez primeiras gerações seguintes que habitaram a terra eram vegetarianos.
Somente após o Dilúvio D’us permitiu ao homem o consumo de carne. Mesmo assim, uma série de restrições, entre as quais a de que só fossem utilizados para este fim animais herbívoros.
A Torá permite o consumo da carne de onze animais, todos dóceis e herbívoros. A razão para isto é simples. Sabemos hoje da influência da alimentação sobre a formação do caráter do homem. A sabedoria popular bem diz “L’homme est ce qu’il mange”, ou seja, o homem é o que ele come.
A carne, assim como qualquer alimento que ingerimos, transforma-se, através da digestão. Transforma-se em nosso sangue, em células, em parte de nós mesmos.
D’us proibiu ao homem consumir sangue para que não tivesse um caráter sanguinário e violento. Foi uma forma de assim preservar nele uma nobreza de alma e um caráter refinado.
Pelo mesmo motivo foi-nos proibido nos alimentarmos de feras ou aves de rapina. Com isso o Todo-poderoso quis evitar pois que a crueldade deste animais nos fosse transmitida.
Os animais cujo consumo a Torá permitiu são, como já dissemos, herbívoros e domésticos: vaca, carneiro, bezerro e outros.
A harmonia existente na Criação
Existe na Criação um equilíbrio perfeito, com uma dinâmica própria, que não cabe ao homem modificar.
De acordo com a Torá, tanto a natureza como suas leis devem ser respeitadas ao máximo. Por exemplo, devemos preservar as espécies, não podemos misturá-las, devemos respeitar o ecossistema. A partir do momento que se tenta forçar uma situação, algo “não-natural”, poderá haver uma reação negativa por parte da natureza.
Obviamente estou apenas emitindo uma suposição, mas, quando li que todos os animais infectados com a doença da “vaca louca” comeram a “ração animal”, vi uma interferência do homem na natureza.
Neste caso vaca louca e judaísmo parece apontar claramente para um sinal de cima. É que animais, gado e rebanho, que devem comer o pasto natural que o Criador lhes reservou, de repente, são obrigados a ingerir algo animal.
Ao tentar transformar animais herbívoros (mesmo que seja apenas um começo), em carnívoros deu nisso. Forçá-los a ingerir ossos ou qualquer ração animal, provocou-se uma catástrofe.
Deve-se salientar aqui algo importante. Sem dúvida, as leis da cashrut são rigorosas. Obrigam o Shochet a uma inspeção minuciosa antes da Shechitá, o abate ritual.
É necessário também que se faça uma inspeção interna, para constatar o estado do animal; para ver se não há falta de órgãos vitais (rins, etc.), o estado do pulmão, se há abscessos ou qualquer outro defeito. Assim podemos entender que vaca louca e judaísmo são coisas distintas, pois no primeiro caso parece ter havido a mão do homem.
Vistoria casher
Os órgãos são analisados de forma muito rigorosa, bem mais do que é exigido internacionalmente pelas leis de higiene sanitárias.
Uma inspeção casher das mais minuciosas poderá verificar se o animal está contaminado, se a doença está em estágio avançado, já tendo atingido o cérebro.
Se o animal estiver apenas recém contaminado pelo vírus, este não é detectável através de uma inspeção visual nem manual; somente através de exames de laboratório poderá se constatar se.o animal está contaminado.
É algo como — o próprio nome da doença diz — uma loucura que não é perceptível a olho nu.
(Matéria publicada na Revista Morashá em junho de 1996)
